O beijo do príncipe (Inveja e gratidão)
- avmilhome
- 11 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
Você se considera invejoso? Conhece alguém assim?
Sabia que esse sentimento não é exclusivo dos adultos? Sabe aquele bebezinho, fofo, lindo...a inveja já está presente nele.
Não acredita? Vou contar uma historinha...
Inveja e gratidão são sentimentos opostos e operantes desde o nascimento do bebê. E sabe qual primeiro objeto de inveja e de gratidão? O seio nutridor!
Para Melaine Klein (1957), o seio materno é, instintivamente, sentido como fonte de nutrição, fonte de vida.
O bebê que esteve dentro da mãe, depois de nascido, com a experiência de saciedade pelo mamar, passa a ter a mãe dentro de si. O bebê introjeta esse objeto bom em sua constituição psíquica e esta experiência terá um peso imenso na sua constituição subjetiva.
Para Klein, a inveja é o sentimento que destrói a introjeção deste objeto bom, desta experiência positiva. Há aqueles bebês que mamam e se saciam. Enquanto, outros bebês querem sempre mais, nunca se saciam.
Os primeiros bebês têm maior tolerância à frustração, maior capacidade de gratificar-se e experimentar a gratidão.
Os segundos bebês trazem inata maior voracidade. Sugam e querem sempre mais. Em sua fantasia, acreditam que o seio bom está se negando a ele. Aí está a origem inconsciente da inveja.
Caberá à mãe driblar essa voracidade do bebê e, com seu cuidado materno, proporcionar a experiência de gratidão no bebê.
Mas alguém tão pequenininho já experiência tudo isso? Sim! E, as vezes, o simples fato da mãe encontrar alternativas como a mamadeira ou outras formas de complementar a voracidade da fome de mamar do bebê já são o suficiente para nele gerar a gratidão.
E o que fazer, então? Se algo começa de forma tão primitiva? Há como lidar com este sentimento tão destrutivo?
Para Klein (1957), a única forma de amenizar os efeitos da inveja é a gratidão.
A gratidão consiste em reconhecer o amor (os sentimentos bons) daquilo que é recebido externamente.
Se a disposição à gratidão pesar mais do que o sentimento invejoso, surge um objeto interno suficientemente bom, que formará o núcleo e fonte da força do ego da criança e do futuro adulto.
Enfim, é a gratidão o antídoto contra a destrutividade da inveja.
Almeida (2018) cita Branca de Neve para ilustrar esta situação. Lembram da Branca de Neve? Envenenada pela inveja da madrasta e acordada pelo beijo de amor do príncipe. O amor que gera gratidão e anula os efeitos destrutivos da inveja.
Pelo que você é grato (a)? Aí está a fonte de uma vida mais feliz.
Referências:
ALMEIDA, A. P. Psicanálise e educação escolar: contribuições de Melanie Klein. São
Paulo: Zagodoni, 2018.
KLEIN, M. (1957). Inveja e gratidão. In: Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-
1963). Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Obras Completas de Melanie Klein; v. 3)
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