Ressentimento: uma visão psicanalítica

O ressentimento é uma mágoa que não se supera. Uma mágoa da qual não se esquece. E parece haver um interesse em não se esquecer essa mágoa.

Na verdade, manter a mágoa serve para acusar o outro e manter o próprio narcisismo preservado. Neste caso, o outro me fez algo e eu sou injustiçado por isso. 

E assim o ressentimento está a serviço do narcisismo, onde a pessoa não se responsabiliza por algo que lhe aconteceu, não acolhe e aceita as perdas, mas culpa e acusa alguém,não assumindo a sua própria incompletude.

O ressentimento é causa de um envenenamento psicológico: raiva, inveja , ira...sentimentos que envenenam o próprio sujeito.

E há uma certa passividade no ressentimento. Ao contrário da revolta, que é um movimento de luta e defesa, o ressentimento é um movimento de vingança e não de luta e defesa.

Quando alguém se revolta com uma injustiça sofrida, esse alguém luta em busca do que considera justo. Apropria-se da própria agressividade e luta em própria defesa. Aqui, não há ressentimento, pois a própria agressividade foi reconhecida e utilizada na luta pelo que se considera justo.

No ressentimento, a pessoa não admite a própria agressividade, não a utiliza para a luta e se ressente de ser alguém tão "bom" e o outro lhe ser injusto. O ressentido sente a raiva, mas por algum ideal que considera mais nobre, não usa sua agressividade em sua defesa. Espera que a vida, por exemplo, lhe faça justiça. E assim mantém o próprio narcisismo (permanece sendo alguém bom), mas se joga numa espécie de vitimismo, alimentando-se de uma vingança imaginária.

A pessoa ressentida tem um apego ao passado ideal, onde era o bebê perfeito para os pais. O que o ressentido quer é permanecer nesse lugar de perfeição. Sem lutar para alcançar o que deseja. Quando o reconhecimento lhe falta, o ressentido entende que o outro lhe deve o que é seu por direito. Não admite sua limitação, sua responsabilidade e vê na possibilidade de luta (o uso da própria agressividade) uma falha e que isto não lhe cabe.

Para sair da posição ressentida é preciso assumir o que se deseja e lutar por isso.