"O pensamento é a ação ensaiando." Freud

Vivemos tempos difíceis, doloridos, sofridos. Perdas.

Ovimos William Bonner falar numa apresentação do Jornal Nacional algo mais ou menos assim: Quando cai um avião e morrem 200 pessoas, ficamos chocados. Quando as torres gêmeas são derrubadas e morrem inúmeras pessoas, ficamos chocados. Mas quando 8.000 pessoas morrem e morrem ao longo dos dias, nos acostumamos com os números porque os números são diluídos com os dias...Mas são 8.000 pessoas. É um desastre! São pessoas que eram pai, mãe, o amor da vida de alguém.

Como não sofrermos neste tempo? Lembro que minha mãe passou uma noite sem conseguir dormir chorando quando soube do número de covas que estavam sendo abertas em Fortaleza em preparação para receber as vítimas do Covid 19 na cidade. Ela não conseguia dormir porque pensava: são pessoas...pode ser alguém que conhecemos e amamos. Pode ser alguém muito querido e amado por outra pessoa que sofrerá tanto com esta perda repentina. Quantas pessoas com uma vida inteira pela frente e poderá partir por um descuido, por uma mão não lavada ou qualquer descuido...

Eu disse: “não pense nisso. Reze.” Precisamos em algum momento que algo que nos dê esperança, que nos ajude a amar de alguma forma para não adoecermos (como bem cita Freud).

Também me chocou a carta do ator Flavio Miliaccio ao se despedir, antes de cometer suicídio, onde ele dizia: “A humanidade não deu certo. Me desculpem (...) Cuidem das crianças(...).”

Diante de vermos tantas realidades que parecem não enxergar a gravidade da situação, talvez esta foi a forma que ele encontrou para sua última mensagem. A vida não tem mesmo importância? Um ato de alguém que precisava gritar de alguma forma para que a dor fosse ouvida. Um ato extremo e irreversível.

Assistindo a um seminário do Professor Clovis de Barros com a Monja Coen, eu os ouvia falar do quanto é necessário cuidarmos de nós. Cuidarmos do que pensamos, de como reagimos ao que sofremos. Não é fácil responder com empatia, com respeito. Mas é o melhor caminho.

“A humanidade não deu certo.” Onde a humanidade está errando? Aprendemos física, matemática, português (ou não aprendemos) na escola. Mas pouco aprendemos a reconhecer o que sentimos, o que pensamos e a como externar isso. E vamos nos desrespeitando. Ferindo e sendo feridos.

“Cuidem das crianças.” Mas ainda há esperança. Todos nós somos as crianças de sempre que apenas cresceram. Cuidemos dessas crianças que existem em nós. Deixemos que elas falem no local correto, que elas cresçam em um ambiente que lhes favoreça o pleno desenvolvimento. Que elas possam ser fortalecidas e aquilo que causa sofrimento nelas enquanto adulto e que causa sofrimento nos outros que com ela convivem possa ser trabalhado, resignificado.

Ainda há as crianças que ainda são crianças. Cuidemos para que a educação seja prioridade. Que os sonhos não sejam perdidos. Que a construção da realidade comece pela construção do que pensamos e sentimos.

“O pensamento é o ensaio da ação.” Freud